Wednesday, April 16, 2014

Um vizinho querido

Morávamos num palacete na Avenida Vieira Souto, na época em que não existiam prédios por ali. Era uma opulenta residência, digna da nossa nobreza, e recebemos muitos dignatários no aconchego da nossa residência. Muitos preferiam ficar nela, do que hospedar-se no Copacabana Palace.

Entretanto, tivemos um problema de infestação de cupins, que não só tomou conta da estrutura da mansão, como também dos móveis. Tivemos que nos mudar temporariamente, enquanto uma equipe de profissionais ingleses colocava nossa maravilhosa residência na normalidade.

Tínhamos diversos imóveis no Rio de Janeiro, porém somente uma humilde casa de 12 cômodos na Tijuca não estava ocupada, pois na época todos queriam morar numa casa dos Chimentão. Para lá fomos, enquanto prosseguiam as obras. Isto porque papai resolveu fazer algumas reformas no palacete Chimentão, e, sendo assim, nossa estadia, programada para alguns poucos meses, se alongou para mais de ano.

Fomos para a Tijuca, nossos pais, empregados, os irmãos e nossos cachorros.

Nosso vizinho era um sujeito engraçado, chamado Abelardo. Eu ainda era rapazinho, mas Abelardo gostou de mim apesar da grande diferença de idade. Abelardo era radialista, já um tanto conhecido no Rio de Janeiro, e muitas vezes ficava um bom tempo no quintal me olhando brincar com minha cachorra, Teresinha. Um belo dia me perguntou:

- Que raio de nome é esse para uma cachorra, Rodolpho?
- Ah, não sei, tinha uma menina que morava perto da minha casa, que parecia uma índia paraguaia, tinha cara de cachorra e se chamava Teresinha. Achei que minha cachorra devia se chamar Teresinha.

Abelardo deu uma forte gargalhada, falou um palavrão (gostava de falar palavrão) e começou a gritar "Teresinha, uúuu".

Eu sempre dormi muito pouco, de fato, lá pelas cinco da manhã já estava de pé. E o meu amigo, mais conhecido pelo apelido Chacrinha, gostava de dormir até tarde. Eu gostava de conversar com ele de manhã, sendo assim, um dia arranjei uma grande e barulhenta buzina, e comecei a usá-la embaixo da sua janela, como se estivesse fazendo uma serenata. Abelardo abriu a janela e gritou:

- Quem é o #%#¨#¨@ que está usando esta &%#¨# desta buzina  %$#%?

Daí ele me viu. Olhou para a buzina, e olhou para mim, olhou para a buzina de novo, e me disse, com cara de quem tinha descoberto a roda:

- Me empresta esta %$¨$ desta buzina Rodolpho?
- Para que?
- Você vai ver...

O resto é história.

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