Saturday, April 19, 2014

A coisa mais difícil que já fiz na vida

Sempre fui atlético, e de fato, participei de muitas competições automobilísticas, de jiu jitsu e de pólo, participando com pseudônimos. Isto me cansou um pouco, ter que usar pseudônimos por ser nobre e rico, sendo assim, fui me afastando dos esportes competitivos pouco a pouco.

Já praticava o alpinismo desde moço. Como carioca da gema - e da clara - tínhamos uma espaçosa casa em Petrópolis, e sempre que podia, me mandava para lá, escalando as montanhas locais.

Agora alpínismo mesmo fui conhecer quando fui estudar na Suíça. Aprimorei-me, e logo me veio o sonho de escalar o Monte Everest, o mais alto da Terra.

Naquela época só era possível escalar pelo Nepal, pois a China não permitia, e o número de expedições era limitado. Fiquei sabendo que o neo-zelandês Edmund Hillary faria uma expedição sob bandeira inglesa em 1953, porém, após alguns contatos, esmoreceu o meu ânimo de buscar uma colocação na equipe. A possibilidade de Hillary incluir um brasileiro no time de primeira era mínima, para não dizer zero. Simplesmente não éramos conhecidos como exímios alpinistas.

Aí me veio uma ideia. Não vou como membro da equipe inglesa, como alpinista ocidental, e sim, como sherpa. Mudei-me para o Nepal, aprendi rapidamente o idioma dos sherpa (sempre tive facilidade para línguas, falo 30), e trouxe algumas maquiagens da Europa para ficar com aparência de Sherpa. Dava muito trabalho aplicar a maquiagem, mas valeu a pena. Mudei o nome para Watta Tikkah.

Como estava no auge do meu preparo físico, fui rapidamente aprovado por Hillary, que inicialmente não desconfiou que eu não era sherpa. Quando desconfiou já era tarde, estávamos a mais de 6000 metros de altura e Edmund não iria rodar a baiana. Hillary viu que eu entendia inglês perfeitamente, enquanto os outros sherpa tinham muita dificuldade e ficavam jum olhando para o outro quando pedia algo. Dei bandeira. Dei mesmo, verão adiante. Eddie aplicou a filosofia do não se mexe em time que está ganhando.

Quando chegamos no último acampamento, a 8500 metros, infelizmente não fui escolhido para integrar o time que subiria ao cume. Uma pena!!! Hillary e seus escolhidos partiram, só que esqueceram a bandeira britãnica que fincariam no cume da montanha! Um grande mico. Como eu era de longe o "Sherpa" melhor preparado dos que ficaram, fui escalado para alcançá-los e entregar a bandeira.

Escalei que nem um louco. Esbaforido, faltava-me o ar, porém, passei algum tempo correndo maratonas no Perú e Bolívia para me preparar, e logo me recuperava. Eventualmente, uma grande surpresa. Cheguei ao cume do Everest, a 8848 metros, e nem sinal de Hillary ou da sua equipe. Fiquei esperando uns quinze minutos, e nada. Era umas 10 e meia. Logo deduzi que devia ter subido pelo flanco oposto, eu subi no sul, eles deveriam estar no norte. Assim, fui descendo o flanco norte, até avistá-los de longe. Deu um pouco de trabalho, mas fiz de conta que estava vindo por baixo, para que não soubessem que já tinha estado lá em cima. Sim, a fineza de espírito que só nos nobres temos. O resto é história.

Quando desci no acampamento dos 8500 metros notei que faltava no meu bolso o escudinho do meu querido Fluminense, que sempre levava no bolso nas minhas escaladas para dar sorte. Fiquei um pouco apreensivo, pois naquela época, acredite ou não, era um pouco supersticioso. Mas não iria subir e descer 348 metros para procurar o danado amuleto, deixei para lá.

Depois de algum tempo a expedição voltou ao nível base, que no Nepal ainda fica alguns quilometros acima do nível do mar. Num jantar celebratório, Hillary me pegou de lado e me fez confessar que não era Sherpa. Disse-lhe que era brasileiro, e rimos muito. Ele disse que também tinha uma confissão a fazer. Achava que algum extra-terreno tinha estado no cume do Everest antes dele, pois tinha achado algo que parecia um escudo de metal vermelho, verde e branco. Os seus assistentes não viram, e ele rapidamente enterrou o escudo na neve. O escudo do meu querido Fluminense, vejam só.  

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