Friday, April 18, 2014

Entrevista com a História

Werner Von Braun era muito meu amigo e acompanhei de perto (inclusive dei alguns palpites) no programa espacial americano dos anos 60. Certa feita, fui visitar Vevé (como o chamava, carinhosamente) e meus amigos astronautas, e acabei conhecendo uma jornalista italiana que escrevia para o Europeo. Seu nome Oriana Fallaci.

Logo Oriana e eu ficamos muito amigos, pois tínhamos muitas coisas em comum. Conversávamos em francês, italiano e inglês, embora lá na NASA sempre falássemos em inglês, para não ofender ninguém. Um belo dia Oriana se mandou para o Vietnã, embora mantivesse um apartamento em Nova Iorque, e casa em Florença, e fiquei um bom tempo sem vê-la.

Quando estava em Nova Iorque nos víamos. Também jantei com ela no Le Lapin Troubadour em Paris, que incrivelmente ela não conhecia (disse que ia escrever um artigo sobre o restaurante, porém, ficou devendo), e a encontrei rapidamente no Rio de Janeiro.

Cabe aqui um porém. Às vezes tenho algumas premonições, e foi exatamente isso que aconteceu em 1968, uma forte premonição. Oriana me ligou em Nova Iorque e me disse que iria para a Cidade do México. Eu lhe disse categoricamente, "Não vá, por favor". Ela me respondeu um tanto ríspida "Chimentano (era assim que me chamava) se fiquei um tempão no Vietnã fugindo de bombas e tiros de metralhadoras, por que haveria de ter medo de um protestinho besta no México, em vias de hospedar os Jogos Olímpicos? Vá se catar. Vou e pronto."

Cabe aqui um porém II. A história se repete, e eu, como prolífico estudante da história (é uma das faculdades prediletas que cursei) posso dizer isso com cátedra. Acontecia no México, no turbulento ano de 1968, o mesmo que acontece no Brasil agora. O país iria realizar os primeiros Jogos Olímpicos de um país sul-americano, e o povo foi às ruas protestando os vultosos gastos do país com o evento, enquanto faltava de tudo no país. Se hoje o México é carente, imagine em 1968!!! Pois bem o país foi palco de muitos protestos, inclusive uma grande praça da cidade do México foi tomada por manifestantes.

E Oriana se foi, cobrir a muvuca na praça da Capital, onde seriam realizados os jogos. E quase não volta. O exército recebeu ordens de evacuar a praça.  No meio de um tumulto, o exército começou a atirar, e Oriana foi ferida. O jornalista alemão que estava ao seu lado não teve tanta sorte. Não queriam de toda maneira aceitar que era uma jornalista estrangeira, e por pouco não se vai para o espaço La Orianetta (era assim que eu a chamava). Salva por uma enfermeira que a reconheceu e contatou a Embaixada Italiana.

Quando voltou para Nova Iorque, disse a Oriana. "La Orianetta, você precisa parar de se arriscar tanto em meio de guerras e protestos. Por que não entrevista grandes figuras da política mundial? Você tem cacife. Se quiser te apresento alguns!"

Bom, o resto é história. Quase história. Entrevista com a História.

La Orianetta ficou muito feliz com o resultado das suas famosas entrevistas, captadas num best-seller, e um dia, enquanto almoçávamos no Tavern on the Green, me disse. "Chimentano, já entrevistei muita gente famosa, agora é sua vez. Vamos fazer uma bela entrevista..."

Antes que terminasse a frase, interrompi. Com semblante sério, lhe disse:

- La Orianetta, você sabe que sou nobre, não posso aparecer. Entreviste os Rothschild, os Rockefeller, os Matarazzo. Deixe os Chimentão em paz.

A mulher virou um bicho! Brigou comigo, se levantou, foi embora e nunca mais a vi. Ah, as italianas...

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