Thursday, April 17, 2014

Minha culpa, minha máxima culpa.

Estava morando em Nova Iorque. Um dia toca to telefone às 7 da manhã:

- Rod, aqui é o Dick. Preciso falar com você, estou angustiado. Mas nada de telefone, vem para cá!
- Está bom, Dick, vou colocar uma roupa decente e pego o primeiro avião.

Fui correndo para o La Guardia. Chegando em Washington, havia uma limusine me esperando, e cinco carros do Secret Service. Tinha cheiro de problema, pois os caras corriam que nem loucos, parecia a Indy 500.

Chegando na Casa Branca, Nixon já havia cancelado todos os compromissos da manhã para me ver. Não encheu linguiça, já foi dizendo o que o perturbava.

- Rod, se soubesse que a tal Guerra Fria era tão forte não tinha me candidatado a Presidente. Eu não durmo mais. O que você acha da Guerra Fria?

Parei um pouco, refleti. Lembrei de Sun Tzu, misturado com um pouquinho de Maquiavel, e disse a Nixon.

- Dick, sei que o problema de vocês é com os comunistas. Só que tem os russos, tem os chineses. Fique amigo de um, imagino, os chineses, e você neutraliza o outro.
- Interessante, só que o Mao Zedong (Tse-Tung) é intransigente, não quer nem falar com a gente. Parece até mais fácil falar com os russos...

Cabe aqui um porém. Poucos sabem, minha família tinha fortes ligações com os chineses há séculos. De fato, um antepassado, o Barão Pereira Gomes da Costa, foi um dos primeiros dignatários portugueses a fazer comércio com os chineses. No porto de Xin Bun, gozava de tratamento preferencial do Chefe do Porto (era muito invejado por isso). O chefe do porto na época se chamava Xi Men Tao. O Barão gostou tanto do nome que o aportuguesou para Chimentão, mudando o nome da família para sempre. E forjando fortes laços com os chineses, que adoraram a homenagem. Até o Mao gostava da nossa família, que chamava de "meus favoritos burgueses", e tínhamos amplo acesso a ele. Na nossa família era costume ensinar chinês desde o berço, de forma que eu falava o idioma perfeitamente. Já sabia o que Dick Nixon iria pedir.

- Faça o seguinte, Rod. Vá para a China, fale com o Mao. Diga que queremos ser amigos. Mas que tipo de amizade?
- Ora Dick, pense no seguinte. Eles têm gente saindo do ladrão, muita terra, e chinês gosta de trabalhar. Tire algumas fábricas dos Estados Unidos e coloque lá. Os produtos serão muito baratos.
- Genial.

Fui para Pequim (ou Beijing, como queiram). Fiquei um mês tentando convencer Mao, que aos gritos me dizia:
- E minha revolução agrícola, como fica!
- Ora Mao, você tem tanta gente aqui que a maioria vai continuar no campo. Mas a coisa vai melhorar para parte da população que vai te adorar e a China eventualmente terá poder mundial.

Bingo, foi falar em poder mundial e os olhos do Mao brilharam. Aceitou que se iniciassem as negociações.

Voltei para Washington, e falei com Dick. Ele queria inclusive que eu participasse das negociações, mas neguei, dizendo que o Kissinger ficaria com ciúmes.

- Deixe quieto, Dick. Fiz pela nossa amizade. Agora abra aquele Vinho do Porto especial que lhe deram de presente outro dia, vamos comemorar.

Quem sabe a culpa seja minha.

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