Tuesday, April 15, 2014

Bateu uma saudade do Paulinho

A fama é uma faca de dois gumes. Sou feliz por ser bem conhecido entre celebridades, influentes, dignatários, autoridades e nobres. Sou conhecido dos famosos, mas o grande público não tem a mínima ideia de quem eu sou. Sorry, periferia, como dizia meu amigaço Ibrahim Sued. Tenho o melhor dos dois mundos.

Porém, devo dizer que meus amigos famosos sofrem, muitas vezes padecem. Porque o público é maldoso, e tem uma percepção errada de quem somos. Imagens são alimentadas pela mídia, frequentemente distorcidas, que trazem sofrimento aos meus amigos do coração, que literalmente, perdem o sono.

Vejam só o Paulinho. Convivi muito com Paulinho. Muitos achavam ele um cara sizudo, extremamente cáustico, cínico, crítico ad extremis, belicoso, antipático, chato. Pois pessoalmente, Paulinho era uma pessoa doce, bem humorada, agradabilíssimo e engraçado. De fato, nosso amigo em comum Millor dizia, "depois me chamam de humorista, olha só o Paulinho..." E caía na gargalhada.

Como morávamos na mesma cidade, Nova Iorque, desfrutei muito da companhia do suave Paulo Francis. Nosso maior folguedo era sair com imensos grupos de brasileiros famosos, porém incultos, e ficar conversando a noite inteira em alemão, idioma que domino completamente, inclusive os dialetos. De fato, eu e Francis começávamos falando o dialeto do sul da Alemanha, depois passávamos para o austríaco, o suíço, o alsaciano. Mesmo quem entendia alemão se complicava. E usávamos algumas palavras brasileiras que não existiam no idioma de Goethe, como Schatenisch (chato). Ou seja, tínhamos o nosso próprio canal de comunicação.

Muitas vezes simplesmente passávamos a noite jogando banco imobiliário. comendo balas de goma, escutando música dodecafônica, discutindo Schopenhauer e contando piadas cabeludas. Às vezes ficava com as mandíbulas doendo de tanto rir, sem contar o estômago dolorido, cheio de doce.

Este era o verdadeiro Paulo Francis. Que falta ele faz!

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